Inspetor Robson Mourão fala à revista sobre segurança pública, saúde mental, trânsito, denúncias anônimas e o peso de representar a Polícia Civil diante das câmeras
- JAMES
- 25 de jul.
- 5 min de leitura
Quando a população vê o rosto de Robson Mourão na TV, muitos pensam que se trata de um ator. Mas basta encontrá-lo no supermercado, na fila do banco ou cruzando a rua para entender que não há personagem algum. É ele mesmo. E está exatamente onde escolheu estar.

A aproximação entre polícia e sociedade, antes distante, agora tem voz, rosto e sobrenome. O inspetor da Polícia Civil Robson Mourão aceitou voluntariamente ser o rosto da campanha de denúncias anônimas veiculada nas principais emissoras da região. A ideia, no entanto, nasceu antes da exposição. “Sentimos a necessidade de aproximar a polícia da população. O cidadão é quem mais detém as informações que precisamos nas investigações”, afirma.
A proposta surgiu dentro da própria corporação. A investigadora Flávia, colega de Robson e integrante da equipe de inteligência, levou a ideia à assessoria de comunicação estadual, que autorizou a iniciativa. O texto foi cuidadosamente elaborado, revisado e aprovado. A gravação ficou por conta de uma produtora local, também de forma voluntária. “Nada teve custo. Foi uma corrente de colaboração e utilidade pública”, explica.
O impacto foi imediato. Em 30 dias, a central de denúncias anônimas recebeu cerca de 400 registros. “Alguns casos ajudam a localizar suspeitos, outros direcionam investigações de homicídios. Às vezes, um corpo é encontrado e a gente só entende o que houve por causa daquelas informações que vêm do 181”, relata o inspetor.
A ponte entre o anonimato e a justiça
Robson é categórico ao falar da segurança do sistema. “Nem mesmo os analistas têm acesso à identificação de quem liga. A denúncia aparece. Você, não. Essa frase, que se tornou lema das campanhas da Polícia Civil, não é apenas uma peça publicitária. É um compromisso real”
O material chega filtrado, em PDF sigiloso, já pronto para análise. Informações que não procedem são descartadas com protocolo de devolução. Já as relevantes são encaminhadas para as instituições competentes. “Muitas vezes a denúncia nem é da alçada da Polícia Civil. Pode ser um vazamento de gás, que vai para os Bombeiros, ou uma questão ambiental, que vai para a PM Ambiental.”
O mais simbólico, porém, é o retorno nas ruas.
“Algumas pessoas ainda acham que somos atores. Quando descobrem que somos policiais reais, a relação muda. É comum ouvirmos você é aquele da TV, e isso cria um vínculo.
As crianças se encantam. Os mais velhos agradecem. A televisão entra na casa das pessoas.
E agora, entramos junto.”
Exposição, rede social e responsabilidade pública
Robson também reconhece que a visibilidade traz responsabilidades.
“Antes, minha rede era fechada. Hoje, com mais de cinco mil seguidores e a imagem pública mais presente, há uma linha tênue entre o pessoal e o institucional.”
Apesar da exposição, mantém o cuidado com a vida íntima. “Preservo a imagem do meu filho. Registro os momentos em um perfil fechado, como se fosse um diário. A rede principal, uso com equilíbrio, entre o profissional e o social.”
A visibilidade, no entanto, não é tratada com vaidade. “Receber a Comenda de Governador Valadares foi uma honra. Mas encaro como um encargo. Um peso simbólico que me exige ainda mais zelo, postura e dedicação. Foi aprovada por unanimidade na Câmara. E isso fala mais da seriedade do nosso trabalho do que de qualquer vaidade pessoal.”
Quem cuida de quem cuida?
A rotina de um policial não termina com o fim do expediente. “Somos cobrados o tempo inteiro. Mas, às vezes, quem cuida da população também precisa de cuidado.” A Polícia Civil tem tentado avançar. Robson relata que há atendimentos psicológicos online, parcerias com a Unimed para exames e vacinação periódica, e ações institucionais para promoção da saúde. “No passado, tínhamos uma manhã por semana dedicada à atividade física, com apoio de clubes locais. Mas a prática foi descontinuada por falta de regulamentação. Agora, lutamos para reativar isso.”
Ele mesmo lidera uma proposta para tornar Valadares um projeto-piloto de retorno dessa atividade. “A integração entre os servidores é essencial. Estamos espalhados em cinco prédios, com equipes que muitas vezes não se veem há meses. A atividade física, além da saúde, promove convivência e ajuda na redução do estresse.”
Os três grandes desafios
Quando o assunto são os principais desafios da segurança pública, Robson prefere ser direto, mas ponderado. O primeiro ponto é o efetivo. A estrutura é sólida, os equipamentos são modernos, mas a quantidade de servidores ainda está aquém da demanda. “Sem pessoal suficiente, muitas vezes o que planejamos não se concretiza.”
A segunda questão envolve a manutenção das viaturas. Muitos dos veículos atualmente em uso foram incorporados a partir de apreensões judiciais e não contam com suporte técnico regular. “Temos contado com parcerias e apoios institucionais para garantir que tudo funcione como precisa funcionar.”
Por fim, Robson aborda a valorização salarial. Apesar de reconhecer conquistas recentes, como o auxílio-alimentação, ele considera que ainda há um caminho a ser percorrido. “A recomposição é importante não apenas para o servidor, mas para toda a estrutura de motivação e estabilidade do trabalho.”
Trânsito: seriedade, formação e prevenção
Robson também atua como examinador na Coordenadoria Estadual de Trânsito.
Avalia candidatos à habilitação nas primeiras horas do dia e, ao final do expediente, com provas para categorias específicas. “É uma função de alta responsabilidade. Colocar alguém sem preparo no volante é colocar uma arma em circulação.”
Ele reconhece que Valadares cresceu e que o trânsito da cidade precisou se adaptar.
A implementação de semáforos inteligentes e um centro de monitoramento urbano ajudaram na fluidez. “O sistema permite que, em situações emergenciais, a Israel Pinheiro seja liberada em minutos para viaturas ou ambulâncias, por exemplo.”
Mas nem tudo depende da tecnologia. O principal vilão, segundo ele, é o celular.
“A distração causada pelo uso do aparelho ao volante tem sido uma das principais causas de acidentes. E muitas vezes, o básico, como o uso da seta, já seria suficiente para evitar tragédias.”
Maio Amarelo, educação e consciência
A campanha Maio Amarelo, de prevenção no trânsito, é outra ação que envolve a Polícia Civil em parceria com escolas, órgãos públicos e entidades civis. “O bem maior é a vida. Por isso não abrimos mão de participar todos os anos.” Ele destaca que a cidade tem se esforçado em promover mudanças e que a participação da sociedade é essencial.
“Sugestões são sempre bem-vindas. Estamos aqui para ouvir, acolher e melhorar.”
No fim, a escolha é por servir
Ao encerrar a conversa, Robson retoma a campanha que o tornou conhecido. O rosto na TV foi apenas o começo. “A pessoa pode continuar com medo. É natural. Mas ela precisa saber que pode confiar. E que vale a pena denunciar. Porque, quando a informação chega, a justiça se move.”
Revista JAMES
Junho/Julho 2025
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