Sandra Perpétuo fala à revista sobre poder, resistência, educação e o limite entre servir e sobreviver na política
- JAMES

- 27 de out.
- 3 min de leitura
Professora, servidora e hoje vereadora em Governador Valadares, ela entrou na política sem tê-la sonhado. Trinta anos de serviço público e uma vida marcada por estudo e resistência sustentam uma mulher que não se apresenta como promessa, mas como resposta.
“Eu não projetei a política. Eu fui convocada para a luta”, diz.

Entre o chamado e a resistência
A trajetória política começou em meio a um protesto contra cortes na educação.
Sandra discursava. Alguém a ouviu, se aproximou e perguntou se ela aceitaria ser candidata.
Ela riu, recusou, depois pensou melhor. “Era um momento de urgência. Eu aceitei o desafio.”
Em 2020, veio a primeira disputa eleitoral. Não venceu. Em 2024, triplicou a votação: 1.714 votos. Hoje, além do mandato, preside o Sindicato dos Servidores Municipais, o SINSEM-GV, e carrega um feito histórico. Foi a primeira mulher eleita e reeleita à presidência.
Mas Sandra reconhece que liderar não é o mesmo que agradar. Dentro e fora do partido, coleciona embates.
Do chão da escola ao plenário
A biografia de Sandra explica sua resistência. Chegou à cidade aos doze anos, trabalhou como faxineira e começou a lecionar antes dos vinte. Subia o Pico da Ibituruna a pé para dar aula.
“Tudo que conquistei foi com muito suor. Não é qualquer vento que me balança.”
A fala é literal e simbólica. Neste ano de 2025, a vereadora recebeu uma ameaça de morte.
Ficou em casa dois dias. Depois, voltou ao trabalho.
“Se eu recuasse, estaria simplesmente me matando viva.
Enquanto eu viver, enquanto eu tiver um fôlego de vida, continuarei na luta.”
A frase se tornou um código pessoal. Ela não dramatiza, mas também não banaliza o risco.
Nota 7
Ao ponderar sobre seu desempenho, a vereadora atribui a si a nota 7 (de 10). Ela justifica que a avaliação não pode ser unilateral, distinguindo seu esforço (que seria 10) dos limites impostos pelos oponentes e pelas ações que não dependem do Legislativo para serem entregues à população.
A fábrica de leis
Em um momento de provocação, a revista propôs um cenário hipotético, questionando qual lei a vereadora faria vigorar no dia seguinte, caso tivesse tal poder, a resposta foi direta e imediata, servindo de reflexão sobre o papel da gestão em Valadares:
"Antes de apresentar um milhão de leis, é essencial fazer cumprir e fazer valer as leis que já existem. O grande problema dessa cidade é que toda hora ficam fazendo uma fábrica de leis, ao invés de uma fábrica de execução das leis. Meu compromisso seria fazer cumprir e fazer valer as leis que já existem."
Sandra Perpétuo cita o descumprimento de normativas fundamentais, como o Plano de Carreira, o Piso do Magistério e as leis municipais de Arborização e Limpeza Pública. O questionamento final que paira sobre a gestão é claro: "Valadares falha por falta de lei ou por falta de vontade política?"
As mulheres da Câmara
A legislatura atual tem cinco mulheres, um marco histórico.
Sandra não transforma o fato em bandeira.
“Não existe unidade automática entre nós. Cada uma tem uma linha, uma forma de pensar.
O respeito existe, mas o consenso não.”
O comentário revela tanto maturidade quanto isolamento. Ela prefere a coerência à conveniência.
Perspectiva e Conclusão
Ao projetar o cenário político para 2026, a vereadora defende a continuidade do projeto de justiça social. Para ela, "é Lula de novo". Ela afirma que sua missão política é transformar a vida dos mais vulneráveis, defendendo que é possível coexistir "o lucro sem a exploração da classe trabalhadora" em uma sociedade capitalista.
"Eu sou fruto do processo da educação. Se eu não tivesse me tornado professora, pedagoga, como que seria a minha vida? Foi um divisor de águas na minha vida. Eu sou filha de pais analfabetos."
Sandra Perpétuo conclui com uma reflexão sobre a base de sua trajetória:
"A educação transforma, e a sociedade não vai se transformar sem ela."
Revista JAMES
Outubro/2025





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