Representatividade, diversidade, saúde mental e fé: Gilsa revela à JAMES os desafios da política em Valadares
- JAMES

- 13 de set.
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Atualizado: 15 de set.
Reeleita para o segundo mandato na Câmara Municipal de Governador Valadares, a vereadora Gilsa representa uma das vozes mais firmes na defesa dos direitos das mulheres e das minorias.

Vinda dos movimentos sociais e populares, afirma que sua presença na política é fruto de uma trajetória de luta. “Fui forjada na luta. Cheguei aqui para ampliar vozes que, muitas vezes, são silenciadas.” No primeiro mandato, Gilsa relata que viveu a solidão de ser uma das duas mulheres na Câmara, enfrentando resistência às pautas de gênero. Hoje, com cinco vereadoras, percebe uma mudança significativa. “Temos perfis diferentes, mas todas são proativas. Isso humaniza o espaço e mostra que a Câmara também pode ser lugar para mulheres sonharem estar.”
Procuradoria da Mulher: uma conquista efetivada
Um dos avanços mais significativos foi a efetivação da Procuradoria da Mulher, após anos de tentativas frustradas. Como Procuradora, Gilsa trabalha para criar uma estrutura de atendimento e escuta qualificada, em parceria com universidades e órgãos jurídicos. “Queremos que até a mulher do bairro mais distante saiba quais são seus direitos e como acessá-los.”
A atuação de Gilsa não se limita às questões de gênero. Ela faz questão de dar visibilidade à pauta LGBTQIA+, mesmo enfrentando hostilidade dentro da própria Casa. Ao usar “todes” em seus discursos, despertou piadas e críticas de colegas. “Não é uma questão de costumes, é sobre a vida. O direito de viver como se é e como se quer.”
Em seu relato, aparecem episódios de desrespeito, desde chacotas até falas de teor racista ou homofóbico. Ela responde com firmeza. “Não é preciso ser negro para defender igualdade racial, nem LGBTQIA+ para defender diversidade. Quem oprime é mais responsável pela pauta do que quem é vitimizado por ela.”
O peso da solidão
A solidão no espaço político trouxe consequências à sua saúde. Adoeceu, somatizou pressões, passou por cirurgia e crises emocionais. “A solidão pode esmagar. Em certos momentos, pensei que não teria forças para continuar.” A reeleição, contudo, representou um fôlego renovado. “Foi a prova de que minha voz ecoou para além do que eu mesma imaginava.”
Gilsa fala com franqueza sobre crises de ansiedade e a importância da terapia. Reconhece que interrompeu o tratamento psicológico, mas entende que precisa retomá-lo.
“O acompanhamento é uma necessidade, sobretudo para quem vive nessa dinâmica intensa da política.”
Educação e juventude
Professora por formação, a vereadora defende que a escola deve ser espaço de debate e consciência crítica. Ao abordar diversidade em sala de aula, enfrentou resistência, mas também abriu diálogos com sindicatos e coletivos. “É preciso conhecer para amar. A escola não pode formar apenas operários, mas cidadãos críticos e livres.”
Fé, ancestralidade e amor
De formação católica, Gilsa afirma ter uma espiritualidade plural. Mantém laços com práticas ancestrais e valoriza experiências em diferentes religiões. Para ela, o essencial é o amor. “Você pode ser tudo, mas se não tiver amor, nada adianta. É no amor que está meu alicerce.”
Nota para si mesma
Questionada sobre uma avaliação de seu mandato, atribui-se nota 7. Reconhece que poderia avançar mais na fiscalização, mas também aponta os riscos de quem enfrenta estruturas consolidadas. “A robustez me faltou, mas também tive zelo pela vida. Ainda assim, sigo tentando avançar.”
O maior obstáculo
Na reflexão final, Gilsa aponta o conservadorismo e as práticas clientelistas como os maiores entraves para avanços coletivos. “Valadares sempre foi acostumada a ter donos, currais eleitorais e trocas desiguais. Mas eu sei de que lado estou: o lado da classe trabalhadora.”
Thiago Gomes Brandão
Revista JAMES
Agosto/Setembro 2025





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