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Dra. Rinara Grossi realizou o maior simpósio sobre autismo do Leste de Minas e se consolidou como uma das principais vozes na luta por inclusão e capacitação.

  • Foto do escritor: JAMES
    JAMES
  • 2 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 3 de mai.


Em conversa com a Revista JAMES, ela falou sobre o TEA-GV, os desafios enfrentados, as urgências do presente e tudo o que ainda precisa avançar.


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O simpósio TEA-GV 2025 estabeleceu um novo padrão de abordagem e escuta. Valadares não apenas acompanhou. Foi mobilizada. O que se disse ali ressoou além do auditório da UNIVALE — e seguirá presente nas conversas que ainda virão.

Em sua segunda edição, o evento se consolidou como um dos encontros mais relevantes do país sobre o Transtorno do Espectro Autista.

À frente do movimento está a médica e idealizadora Dra. Rinara Grossi. Em tom direto, ela relembra:

“Em 2024, o que mais me marcou foi o que veio depois. As conversas, as transformações, o quanto aquilo mexeu com a cidade. Eu não fazia ideia de que teria esse alcance, inclusive para quem nem foi ao evento.”


Este ano, o simpósio cresceu. Segundo Rinara, enquanto a primeira edição tratou dos aspectos mais básicos do espectro, a proposta agora foi aprofundar. “Estamos falando de relacionamentos, sexualidade, comorbidades, da falta de terapias adequadas e também das questões que surgem na adolescência. É hora de amadurecer a discussão.”


Ela não suaviza o convite: “O autismo passa por diversos momentos. E quem está ali pra cuidar, pra acolher, também vai ter que amadurecer. Nem sempre vai ser fácil — às vezes é na marra mesmo.”


Com naturalidade e afeto, ela descreve o simpósio como um filho. “Esse filho cresceu. Nasceu ano passado e agora cresceu. E como todo filho, ele vem com desafios.”


Rinara explica que, nesta edição, o evento também abre espaço para temas que costumam surgir no entorno do autismo — como o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), o TOD (Transtorno Opositivo Desafiador) e a Síndrome de Down. “E a gente precisa falar sobre tudo isso.”


Um dos focos desta edição foi justamente ampliar o olhar para além do diagnóstico. “Nem tudo é autismo. Às vezes, essas crianças não são vistas. E a gente precisa falar sobre quando não é autismo.”


Outra ênfase foi para a presença nas escolas. “Essa criança vai chegar na escola. E o professor vai ter que lidar com ela. Não tem como fugir. A formação desses profissionais é urgente.”



Cuidar de quem cuida


Entre as palavras mais recorrentes durante o simpósio, uma se destacou com mais força: acolhimento. Porque por trás de cada criança, há uma mãe, um pai, uma família inteira tentando não desabar. E Rinara Grossi sabe disso não só como médica, mas como mãe.

“O simpósio também é um espaço para refletir sobre quem está cuidando de quem cuida. A gente tenta fazer esse olhar desde dentro da empresa. A visão nunca é só da criança. É da família.”


Dra. Rinara é pediatra na Clínica Lotus - Medicina e Saúde — que tem como propósito oferecer cuidados médicos de qualidade, com foco na prevenção, no bem-estar e na promoção da saúde. Uma atuação que reflete a mesma visão ampliada que ela leva para o simpósio: cuidar de forma integral, com escuta e presença.


Essa preocupação se materializa em ações como o setor de acolhimento materno, criado para que as mães tenham um espaço seguro para falar — inclusive sobre o que não está funcionando. “Se ela não está satisfeita com a psicóloga, com a fono, a gente quer ouvir. Porque se a família não estiver bem, essa criança não vai evoluir.”


É com esse olhar que o simpósio dá visibilidade ao Projeto Libélula, o primeiro grupo de apoio a mães atípicas em Governador Valadares. “Hoje são mais de 500 mães. É um trabalho construído com escuta, respeito e muita coragem. A ideia é simples: para cuidar da criança, a mãe precisa estar viva por dentro.”


Rinara é madrinha do projeto e faz questão de frisar que a transformação começa ali, na escuta. “Tem cidade vizinha que já replicou. E tomara que venham mais grupos, mais iniciativas, mais espaços onde essas mães possam receber apoio de verdade”



Sem preparo, não há acolhimento que resista


A urgência da sala de aula


Se há uma palavra que Rinara Grossi transformaria em lei, seria capacitação. E não hesita ao afirmar: “O segredo está na formação de pais e professores.”


Ela destaca que a escola ocupa um papel central na trajetória da criança atípica. “É um dos primeiros espaços onde os desafios começam a ser percebidos. E é também onde os direitos precisam ser garantidos.”


A crítica de Rinara vai direto à estrutura da formação docente. “Nos cursos de pedagogia, o autismo e os transtornos do neurodesenvolvimento ainda são tratados de forma muito superficial. A psicologia educacional é uma disciplina entre tantas, mas não aprofunda o que de fato precisa ser aprofundado.”


Ela reconhece o esforço dos educadores, mas aponta o limite estrutural. “As professoras fazem o melhor que podem. Mas muitas vezes não é suficiente — não por falta de vontade, mas por falta de formação baseada em evidências. E sem ciência, a inclusão vira improviso.”


O tema foi tratado com firmeza no simpósio. Para ela, é urgente pensar em formação continuada, incentivos e especializações acessíveis. “Existem alternativas. Não dá para esperar que tudo mude pela grade curricular da faculdade, mas é possível oferecer caminhos fora dela.”


E reforça: “Não é sobre cobrar mais do professor. É sobre dar ferramentas. A gente quer ele junto, como aliado.”



Capacitação não é diferencial. É requisito.


“Quando comecei minha capacitação, tinha pouquíssima oferta. Hoje já consigo contar algumas formações boas que surgiram. Dá pra contar nos dedos. Mas são bons profissionais, comprometidos. Isso já é um avanço.”


Nos últimos anos, o Brasil começou a falar mais sobre autismo. Cursos, certificações, congressos. O movimento cresceu — e Rinara acompanhou de perto.

Ela conclui: “Não dá pra achar que um curso vai bastar. A formação precisa ser contínua.”



Não é só mais um simpósio. É um marco que seguirá influenciando práticas e discursos. 


O TEA-GV 2025 consolidou-se como um dos eventos mais relevantes da área, com impacto direto sobre profissionais, famílias e políticas de inclusão.


Durante dois dias, o auditório lotado ouviu o que o país precisava ouvir. Palestras de excelência, conduzidas por profissionais que falam com autoridade e vivência. Gente que pesquisa, atende, estuda. Mas que também convive. Que também acolhe. Que também atravessa tudo isso no dia a dia.


Entre uma fala e outra, o público circulava por uma estrutura pensada nos detalhes. Praça de alimentação com delícias locais. Stands com livros, brinquedos educativos, materiais pedagógicos, medicamentos. Tudo com propósito. Tudo com sentido. Nada ali era só vitrine. Era conteúdo. Era cuidado.


E o que aconteceu nos dias do simpósio não se mede por número de inscritos nem por alcance nas redes. Embora tudo isso tenha sido real e impressionante. Se mede no silêncio emocionado de quem, pela primeira vez, foi visto. No olhar de quem nunca tinha se sentido representado. No alívio de quem entendeu que não está sozinho.


E no centro disso tudo, ela. Dra. Rinara Grossi.

Coordenando, acolhendo, resolvendo, se desdobrando.

Sem produtora. Sem descanso.

Com entrega. Com presença.

Contou com a força da família, com a parceria da equipe, com amigos que viraram extensão do projeto. Com o apoio de empresas e instituições que compreenderam a importância de estar junto.


Ela já disse que não fará de novo. Que 2026 não vai ter. E a gente acredita. Mas também sabe que isso não é o fim.


Porque o que aconteceu nesses dias...

Está na cidade.

Está nas famílias.

Está mudando as conversas.

E quando algo abraça tanta gente assim, não desaparece.

Cria raízes.

E começa a dar fruto onde antes só havia silêncio.

O filho continua crescendo...



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Revista JAMES

Fotos: Lilian Andrade

Governador Valadares

Abril/Maio 2025



 
 
 

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